Retrato do Papa Urbano VIII (1632), por Gian Lorenzo
Bernini (Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma)
Bernini (Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma)
2.3. Os Eclesiásticos e a Astronomia
Embora a maioria dos eclesiásticos estivesse de acordo com a teoria geocêntrica, havia Cardeais e outros eclesiásticos adeptos do sistema de Copérnico ou defensores de Galileu. Citamos uns poucos4:
– O beneditino Benedetto Castelli diz, referindo-se ao sistema geocêntrico, defendido por Aristóteles: “Aristóteles errou nessa, como em muitas outras coisas”.
– O Cardeal Maffeo Barberini (mais tarde Urbano VIII) opôs-se a que Galileu fosse declarado herético, bem como o Cardeal Luigi Caetani.
– O mesmo Barberini, já eleito papa, declarou ao Cardeal Zoller que a Igreja não tinha condenado, nem estava por condenar, a teoria heliocêntrica como herética, mas apenas como temerária.
– Niccolò Riccardi, Mestre do Sacro Palácio*, estava convencido de que o heliocentrismo não era matéria de fé e de que, de forma alguma, convinha comprometer nele as Escrituras.
Embora a maioria dos eclesiásticos estivesse de acordo com a teoria geocêntrica, havia Cardeais e outros eclesiásticos adeptos do sistema de Copérnico ou defensores de Galileu. Citamos uns poucos4:
– O beneditino Benedetto Castelli diz, referindo-se ao sistema geocêntrico, defendido por Aristóteles: “Aristóteles errou nessa, como em muitas outras coisas”.
– O Cardeal Maffeo Barberini (mais tarde Urbano VIII) opôs-se a que Galileu fosse declarado herético, bem como o Cardeal Luigi Caetani.
– O mesmo Barberini, já eleito papa, declarou ao Cardeal Zoller que a Igreja não tinha condenado, nem estava por condenar, a teoria heliocêntrica como herética, mas apenas como temerária.
– Niccolò Riccardi, Mestre do Sacro Palácio*, estava convencido de que o heliocentrismo não era matéria de fé e de que, de forma alguma, convinha comprometer nele as Escrituras.
(*) Atualmente, diz-se Teólogo da Casa Pontifícia. É o teólogo pessoal do Papa: revisa os documentos pontifícios e é consultor de diversas comissões do Vaticano. São Domingos foi o primeiro a assumir o posto, em 1218; desde então, o cargo é sempre ocupado por um dominicano.
– Em 1632, na iminência do segundo processo, Castelli professou sua fé copernicana a Vincenzo Maculano, Comissário do Santo Ofício. – Relembramos que o sistema heliocêntrico foi usado para a reforma do calendário litúrgico.
2.4. A Interpretação da Bíblia
Desde os Santos Padres dos primeiros séculos do Cristianismo, já eram conhecidos outros sentidos, além do estritamente literal, ao ser interpretada a Bíblia. Henri de Lubac5 destaca que na exegese medieval se procedia à leitura da Sagrada Escritura segundo os quatro sentidos: literal, histórico, alegórico e moral.
Entretanto, no tempo de Galileu a interpretação da Bíblia era feita de modo mais rígido e, em geral, atendo-se exageradamente ao sentido literal do texto. Como causa principal desse modo de proceder, estava o protestantismo, que, desde o manifesto de Lutero, em 1517, vinha promulgando a livre interpretação da Bíblia. Paraevitar os males que estavam sendo causados à fé cristã por este modo de proceder, a Igreja passou a se fixar mais no sentido literal das palavras, enquanto não houvesse motivos fortes que desaconselhassem tal proceder.
Lembramos aqui o princípio da consciência possível, da sociologia: “Todo pensamento é socialmente condicionado e limitado. Devido aos condicionamentos que limitam a visão da realidade, há um limite máximo que o conhecimento ou a compreensão de um indivíduo, um grupo, uma classe social ou toda uma época pode atingir... Outros fatores condicionantes que integram o conceito de consciência possível são a religião, o pensamento científico, as ideologias, as solidariedades étnicas e nacionais, o gosto artístico, etc., que limitam o campo da consciência para toda uma comunidades humana e até mesmo para uma época. Cada época possui paradigmas que condicionam sua cosmovisão científica e sua práxis concreta”6.
Naquela época, com o exíguo desenvolvimento das ciências naturais, as Escrituras eram usadas também para explicações científicas. Sem o conhecimento dos gêneros literários dos antigos orientais, do sentido correto de certas palavras, os teólogos interpretavam a Bíblia literalmente, o que, aliás, é um princípio da hermenêutica: “Não é lícito abandonar o sentido literal de um texto, sem que haja evidentes indícios de que é metafórico”7. Por exemplo, no caso de existirem argumentos de peso a favor de uma hipótese científica.
Além do mais, a interpretação literal de certos trechos da Bíblia (que apontavam para o geocentrismo) estava de acordo com o bom senso geral da época, que via o movimento do Sol e da Lua, bem como com os filósofos aristotélicos e com a quase totalidade dos astrônomos. Antes de Galileu, Aristarco e Copérnico já haviam lançado a hipótese do heliocentrismo, mas sem qualquer argumento convincente. E sem que alguém tivesse refutado o forte argumento contrário à rotação da Terra: “e o vento, senhores, o vento de 1.440 km/h oriundo da rotação da terra?”
Citamos aqui D. Estêvão Bettencourt:
“Para estabelecer a atual teoria planetária, milhares de sábios e estudiosos contribuíram; assim as hipóteses de Copérnico, as medidas científicas de Tycho, as observações de Galileu, as leis formuladas por Kepler... Ainda durante cerca de cem anos depois de Galileu os argumentos antigos em favor do geocentrismo continuaram a ter peso mais forte na opinião pública do que as razões aduzidas por Copérnico e Galileu em favor do heliocentrismo”.
“A fim de ilustrar quão árduo devia ser a um cristão imbuído da mentalidade dos séculos XVI/XVII admitir o heliocentrismo, seja aqui observada a atitude dos autores protestantes diante do novo sistema:
“Lutero (+1546) julgava que as idéias de Copérnico eram idéias de louco, que tornavam confusa a astronomia.
“Melancton, companheiro de Lutero, declarava que tal sistema era fantasmagoria e significava a rebordosa das ciências.
“Kepler (1571-1630), astrônomo protestante contemporâneo de Galileu,teve que deixar sua terra, o Wurttemberg, por causa de suas idéias copernicanas.
“Em 1659, o Superintendente Geral de Wittemberg, Calovius, proclamava altamente que a razão se deve calar quando a Escritura falou; verificava com prazer que os teólogos protestantes, até o último, rejeitavam a teoria de que a Terra se move.
“Em 1662, a Faculdade de Teologia protestante da Universidade de Estrasburgo afirmou estar o sistema de Copérnico em contradição com a Sagrada Escritura.
“Em 1679, a Faculdade de Teologia protestante de Upsala (Suécia) condenou Nils Celsius por ter defendido o sistema de Copérnico.
“Ainda no século XVIII, a oposição luterana contra o sistema de Copérnico era forte: em 1774 o pastor Kohlreiff, de Ratzeburg, pregava energicamente que «a teoria do heliocentrismo era abominável invenção do diabo»”8.
Desde os Santos Padres dos primeiros séculos do Cristianismo, já eram conhecidos outros sentidos, além do estritamente literal, ao ser interpretada a Bíblia. Henri de Lubac5 destaca que na exegese medieval se procedia à leitura da Sagrada Escritura segundo os quatro sentidos: literal, histórico, alegórico e moral.
Entretanto, no tempo de Galileu a interpretação da Bíblia era feita de modo mais rígido e, em geral, atendo-se exageradamente ao sentido literal do texto. Como causa principal desse modo de proceder, estava o protestantismo, que, desde o manifesto de Lutero, em 1517, vinha promulgando a livre interpretação da Bíblia. Paraevitar os males que estavam sendo causados à fé cristã por este modo de proceder, a Igreja passou a se fixar mais no sentido literal das palavras, enquanto não houvesse motivos fortes que desaconselhassem tal proceder.
Lembramos aqui o princípio da consciência possível, da sociologia: “Todo pensamento é socialmente condicionado e limitado. Devido aos condicionamentos que limitam a visão da realidade, há um limite máximo que o conhecimento ou a compreensão de um indivíduo, um grupo, uma classe social ou toda uma época pode atingir... Outros fatores condicionantes que integram o conceito de consciência possível são a religião, o pensamento científico, as ideologias, as solidariedades étnicas e nacionais, o gosto artístico, etc., que limitam o campo da consciência para toda uma comunidades humana e até mesmo para uma época. Cada época possui paradigmas que condicionam sua cosmovisão científica e sua práxis concreta”6.
Naquela época, com o exíguo desenvolvimento das ciências naturais, as Escrituras eram usadas também para explicações científicas. Sem o conhecimento dos gêneros literários dos antigos orientais, do sentido correto de certas palavras, os teólogos interpretavam a Bíblia literalmente, o que, aliás, é um princípio da hermenêutica: “Não é lícito abandonar o sentido literal de um texto, sem que haja evidentes indícios de que é metafórico”7. Por exemplo, no caso de existirem argumentos de peso a favor de uma hipótese científica.
Além do mais, a interpretação literal de certos trechos da Bíblia (que apontavam para o geocentrismo) estava de acordo com o bom senso geral da época, que via o movimento do Sol e da Lua, bem como com os filósofos aristotélicos e com a quase totalidade dos astrônomos. Antes de Galileu, Aristarco e Copérnico já haviam lançado a hipótese do heliocentrismo, mas sem qualquer argumento convincente. E sem que alguém tivesse refutado o forte argumento contrário à rotação da Terra: “e o vento, senhores, o vento de 1.440 km/h oriundo da rotação da terra?”
Citamos aqui D. Estêvão Bettencourt:
“Para estabelecer a atual teoria planetária, milhares de sábios e estudiosos contribuíram; assim as hipóteses de Copérnico, as medidas científicas de Tycho, as observações de Galileu, as leis formuladas por Kepler... Ainda durante cerca de cem anos depois de Galileu os argumentos antigos em favor do geocentrismo continuaram a ter peso mais forte na opinião pública do que as razões aduzidas por Copérnico e Galileu em favor do heliocentrismo”.
“A fim de ilustrar quão árduo devia ser a um cristão imbuído da mentalidade dos séculos XVI/XVII admitir o heliocentrismo, seja aqui observada a atitude dos autores protestantes diante do novo sistema:
“Lutero (+1546) julgava que as idéias de Copérnico eram idéias de louco, que tornavam confusa a astronomia.
“Melancton, companheiro de Lutero, declarava que tal sistema era fantasmagoria e significava a rebordosa das ciências.
“Kepler (1571-1630), astrônomo protestante contemporâneo de Galileu,teve que deixar sua terra, o Wurttemberg, por causa de suas idéias copernicanas.
“Em 1659, o Superintendente Geral de Wittemberg, Calovius, proclamava altamente que a razão se deve calar quando a Escritura falou; verificava com prazer que os teólogos protestantes, até o último, rejeitavam a teoria de que a Terra se move.
“Em 1662, a Faculdade de Teologia protestante da Universidade de Estrasburgo afirmou estar o sistema de Copérnico em contradição com a Sagrada Escritura.
“Em 1679, a Faculdade de Teologia protestante de Upsala (Suécia) condenou Nils Celsius por ter defendido o sistema de Copérnico.
“Ainda no século XVIII, a oposição luterana contra o sistema de Copérnico era forte: em 1774 o pastor Kohlreiff, de Ratzeburg, pregava energicamente que «a teoria do heliocentrismo era abominável invenção do diabo»”8.
2.5. A Inquisição
Só a leitura desta palavra já costuma causar mal-estar, por ser geralmente associada a terror, tortura, fogueira, morte. Nem tanto assim, embora não se possa dizer que a Inquisição tratava de amenidades.
Houve excessos, e graves, principalmente nos países onde o poder civil passou a comandar. Nem tudo é justificável, mesmo sem a intromissão do poder civil, que transformava a Inquisição em um órgão de interesse político, principalmente na Espanha e Portugal, a partir do século XVI. Destacou-se, por sua excessiva severidade, o inquisidor dominicano Tomás de Torquemada.
Entretanto, procuremos entender os fatos e pensar com a mentalidade época, de acordo com o princípio da consciência possível, que comentamos anteriormente. Na época feudal, profano e sagrado eram muito unidos; por assim dizer, as duas faces de uma mesma moeda. Desvios doutrinários afetavam a vida social.
“De certa forma a Inquisição foi a reação de defesa de uma sociedade para a qual a preservação da fé era tão importante como a saúde ou os direitos humanos para a sociedade atual... Embora tenha havido episódios deploráveis, a Inquisição representou um claro progresso com relação aos tribunais e julgamentos da época, como reconhecem muitos juristas atuais: era o tribunal mais justo e brando do seu tempo [o grifo é nosso]. Ela introduziu a justiça regular, evitando que a justiça leiga ou mesmo a revolta popular infligissem os piores castigos aos suspeitos de heresia. Muitas vezes foi a autoridade eclesiástica quem interveio para subtrair à fúria da multidão os que esta considerava heréticos, embora nem sempre conseguisse evitar que condenados à prisão fossem retirados e conduzidos à fogueira pela população furiosa e amotinada, que se queixava da «fraqueza e excessiva brandura» do bispo. Todos esses aspectos ajudamnos a não julgar com tanta severidade instituições de outras épocas e mentalidades, ao mesmo tempo que nos levam a considerar que o nosso tempo também não está isento de coisas piores: guerras, campos de concentração, gulags, racismos, colonialismos, explorações, etc”9.
Outras citações, que confirmam as palavras acima10:
– Revista Crítica Histórica: “Com o passar dos anos e com a multiplicação das pesquisas de arquivo, foram aparecendo cada vez mais elogios à racionalidade dos procedimentos e à brandura dos tribunais da Inquisição, que se revela não mais como uma entidade demoníaca, mas como uma instituição dotada de regras racionais e capaz de moderar o uso da tortura e desencorajar a denúncia e a delação”.
– Luigi Firpo, historiador laicista, com acesso aos tribunais do Santo Ofício: “Compareceram diante daquele tribunal mais delinqüentes comuns, pessoas culpadas de atos que o direito moderno considera crimes, do que acusados de crimes de opinião e paladinos da liberdade de pensamento. As prisões de hoje são verdadeiros infernos se comparadas com as tão difamadas celas da Inquisição. Naturalmente, a Inquisição não era um agradável clube para conversas amenas, mas fornecia garantias jurídicas inexistentes nos tribunais civis daquela época” (O grifo é nosso).
– Gustav Henningsen, historiador dinamarquês: “Ao contrário de todas as instituições da época, a Inquisição não recorria normalmente à tortura”. ... “A Inquisição introduziu um princípio de transparência, de moderação e de direito onde o poder político e o povo queriam proceder à justiça sumária e exemplar”... “A população católica não temia o Santo Ofício, como muitos historiadores quiseram demonstrar. Os inquisidores não era monstros nem torturadores, mas teólogos e juristas respeitados e estimados”.
“Nas igrejas protestantes predominava um zelo intransigente, reforçado pelo fundamentalismo bíblico que as caracterizava”... “Os protestantes criticavam a moderação do Santo Ofício.” Aliás, diga-se de passagem,a Igreja foi responsabilizada por grande parte dos crimes e fogueiras perpetuados pelos protestantes.
– Estêvão Bettencourt: “Mais de uma vez a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os excessos dos inquisidores. Todo inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministério era deposto do cargo”11.
– Boulanger: “Foi sobretudo na Espanha que a Inquisição deixou as mais profundas e tristes recordações. Instituída no século XIII, segundo as formas canônicas, foi modificada no fim do século XV por Fernando V e Isabel. Sob seu influxo a Inquisição converteu-se, por assim dizer, numa instituição do Estado, onde entrava mais política que religião [...].
“O código penal da Idade Média era em geral muito mais rigoroso que o da Inquisição. As atrocidades (torturas e morte pelo fogo) da legislação criminal da época tinham por finalidade impedir a repetição dos crimes, incutindo o terror com exemplos espantosos àqueles povos difíceis de governar e de costumes violentos”12.
Lembremos, outrossim, que modos de agir de épocas passadas parecem, no presente, atrocidades ou vinganças, mas foram, dentro do ambiente então vigente, melhoramentos para a sociedade, abrandamentos de costumes bárbaros. Por exemplo, a conhecida “lei do talião”, que transportou para o domínio da punição uma exigência de justiça, graduando a pena de acordo com o dano produzido (“olho por olho, dente por dente”). Antes dela, a vingança dependia da ira do vingador: a um dente arrancado poderia corresponder uma cabeça arrancada...
Houve excessos, e graves, principalmente nos países onde o poder civil passou a comandar. Nem tudo é justificável, mesmo sem a intromissão do poder civil, que transformava a Inquisição em um órgão de interesse político, principalmente na Espanha e Portugal, a partir do século XVI. Destacou-se, por sua excessiva severidade, o inquisidor dominicano Tomás de Torquemada.
Entretanto, procuremos entender os fatos e pensar com a mentalidade época, de acordo com o princípio da consciência possível, que comentamos anteriormente. Na época feudal, profano e sagrado eram muito unidos; por assim dizer, as duas faces de uma mesma moeda. Desvios doutrinários afetavam a vida social.
“De certa forma a Inquisição foi a reação de defesa de uma sociedade para a qual a preservação da fé era tão importante como a saúde ou os direitos humanos para a sociedade atual... Embora tenha havido episódios deploráveis, a Inquisição representou um claro progresso com relação aos tribunais e julgamentos da época, como reconhecem muitos juristas atuais: era o tribunal mais justo e brando do seu tempo [o grifo é nosso]. Ela introduziu a justiça regular, evitando que a justiça leiga ou mesmo a revolta popular infligissem os piores castigos aos suspeitos de heresia. Muitas vezes foi a autoridade eclesiástica quem interveio para subtrair à fúria da multidão os que esta considerava heréticos, embora nem sempre conseguisse evitar que condenados à prisão fossem retirados e conduzidos à fogueira pela população furiosa e amotinada, que se queixava da «fraqueza e excessiva brandura» do bispo. Todos esses aspectos ajudamnos a não julgar com tanta severidade instituições de outras épocas e mentalidades, ao mesmo tempo que nos levam a considerar que o nosso tempo também não está isento de coisas piores: guerras, campos de concentração, gulags, racismos, colonialismos, explorações, etc”9.
Outras citações, que confirmam as palavras acima10:
– Revista Crítica Histórica: “Com o passar dos anos e com a multiplicação das pesquisas de arquivo, foram aparecendo cada vez mais elogios à racionalidade dos procedimentos e à brandura dos tribunais da Inquisição, que se revela não mais como uma entidade demoníaca, mas como uma instituição dotada de regras racionais e capaz de moderar o uso da tortura e desencorajar a denúncia e a delação”.
– Luigi Firpo, historiador laicista, com acesso aos tribunais do Santo Ofício: “Compareceram diante daquele tribunal mais delinqüentes comuns, pessoas culpadas de atos que o direito moderno considera crimes, do que acusados de crimes de opinião e paladinos da liberdade de pensamento. As prisões de hoje são verdadeiros infernos se comparadas com as tão difamadas celas da Inquisição. Naturalmente, a Inquisição não era um agradável clube para conversas amenas, mas fornecia garantias jurídicas inexistentes nos tribunais civis daquela época” (O grifo é nosso).
– Gustav Henningsen, historiador dinamarquês: “Ao contrário de todas as instituições da época, a Inquisição não recorria normalmente à tortura”. ... “A Inquisição introduziu um princípio de transparência, de moderação e de direito onde o poder político e o povo queriam proceder à justiça sumária e exemplar”... “A população católica não temia o Santo Ofício, como muitos historiadores quiseram demonstrar. Os inquisidores não era monstros nem torturadores, mas teólogos e juristas respeitados e estimados”.
“Nas igrejas protestantes predominava um zelo intransigente, reforçado pelo fundamentalismo bíblico que as caracterizava”... “Os protestantes criticavam a moderação do Santo Ofício.” Aliás, diga-se de passagem,a Igreja foi responsabilizada por grande parte dos crimes e fogueiras perpetuados pelos protestantes.
– Estêvão Bettencourt: “Mais de uma vez a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os excessos dos inquisidores. Todo inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministério era deposto do cargo”11.
– Boulanger: “Foi sobretudo na Espanha que a Inquisição deixou as mais profundas e tristes recordações. Instituída no século XIII, segundo as formas canônicas, foi modificada no fim do século XV por Fernando V e Isabel. Sob seu influxo a Inquisição converteu-se, por assim dizer, numa instituição do Estado, onde entrava mais política que religião [...].
“O código penal da Idade Média era em geral muito mais rigoroso que o da Inquisição. As atrocidades (torturas e morte pelo fogo) da legislação criminal da época tinham por finalidade impedir a repetição dos crimes, incutindo o terror com exemplos espantosos àqueles povos difíceis de governar e de costumes violentos”12.
Lembremos, outrossim, que modos de agir de épocas passadas parecem, no presente, atrocidades ou vinganças, mas foram, dentro do ambiente então vigente, melhoramentos para a sociedade, abrandamentos de costumes bárbaros. Por exemplo, a conhecida “lei do talião”, que transportou para o domínio da punição uma exigência de justiça, graduando a pena de acordo com o dano produzido (“olho por olho, dente por dente”). Antes dela, a vingança dependia da ira do vingador: a um dente arrancado poderia corresponder uma cabeça arrancada...
2.6. O Index
O Index Librorum Prohibitorum era uma lista de publicações que continham doutrinas errôneas, contrárias à fé e à moral cristãs. Por essa razão, as publicações contidas no Index não podiam ser lidas pelos católicos. Houve exageros e excessos de rigor, mas o princípio é perfeitamente válido, e aplicado ainda hoje em dia em muitos países civilizados, nos quais há censura de programas de TV, peças de teatro, publicações, filmes, etc., tendo em vista a salvaguarda de princípios éticos e de respeito a convicções religiosas. Não são, por exemplo, os filmes classificados por idade, para evitar deformações no desenvolvimento psíquico e moral das pessoas?
O Index Librorum Prohibitorum era uma lista de publicações que continham doutrinas errôneas, contrárias à fé e à moral cristãs. Por essa razão, as publicações contidas no Index não podiam ser lidas pelos católicos. Houve exageros e excessos de rigor, mas o princípio é perfeitamente válido, e aplicado ainda hoje em dia em muitos países civilizados, nos quais há censura de programas de TV, peças de teatro, publicações, filmes, etc., tendo em vista a salvaguarda de princípios éticos e de respeito a convicções religiosas. Não são, por exemplo, os filmes classificados por idade, para evitar deformações no desenvolvimento psíquico e moral das pessoas?
Folha de rosto de uma edição
portuguesa do Index publicada em 1607.
Porventura deixaria uma mãe veneno ao alcance de seus filhos? Poderia então a Igreja, como mãe que é dos católicos, deixar ao alcance de seus filhos publicações que fossem nocivas à sua saúde espiritual? Está a maioria da população brasileira, atualmente, satisfeita com a deseducação promovida pela televisão? Não está desprezando e agredindo as mais caras tradições da família brasileira, os bons costumes, a moralidade, os princípios éticos? Não está minando o caráter de nossa juventude? Não se pedem medidas que proíbam programas que levam à dissolução dos valores morais, éticos e religiosos?
Acrescente-se ainda que pessoas de sólida formação espiritual tinham permissão para ler publicações no Index.
Atualmente não temos o Index, mas temos publicações sérias, como Pergunte e Responderemos, que analisam e recomendam ou desaconselham a leitura de certas publicações, as quais nada de útil apresentam e podem causar confusão e desvios de fé e Moral em pessoas com deficiências em sua formação espiritual.
Acrescente-se ainda que pessoas de sólida formação espiritual tinham permissão para ler publicações no Index.
Atualmente não temos o Index, mas temos publicações sérias, como Pergunte e Responderemos, que analisam e recomendam ou desaconselham a leitura de certas publicações, as quais nada de útil apresentam e podem causar confusão e desvios de fé e Moral em pessoas com deficiências em sua formação espiritual.



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